A disputa entre “passado” e “presente” é explicitada em diversas
ocasiões, visando justicar a substituição do modelo de repartição da pre-
vidência social, por um modelo de capitalização.
Paulo
Guedes
No ano passado, nós gastamos 700 bilhões de reais com a Previdência, que é o
passado, são os nossos idosos, e gastamos 70 milhões de reais com a educa-
ção, que é o nosso futuro. Então nós gastamos 10 vezes mais com a Previdência
do que com a educação, que é o futuro (Em Audiência pública na Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania em 3/04/2019).
Agente
social Discurso
Rogério
Marinho
Despendemos dez vezes mais com o passado do que com o futuro. Quando a
despesa com a Previdência aumenta, o orçamento é comprimido, e isso diminui
a capacidade de o Estado investir em saúde, educação e infraestrutura (Em Au-
diência da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara
dos Deputados em 16/02/2019).
Além disso, a narrativa elaborada busca ainda colocar em disputa
“velhos” e “jovens desempregados”, atribuindo ao regime previdenciário
de repartição o desajuste entre esses grupos geracionais e, portanto, a pre-
vidência social seria a responsável por operar como “bombas de destrui-
ção” sobre os empregos e sobre o futuro dos jovens.
Paulo
Guedes
Financiar aposentadoria do trabalhador idoso desempregando trabalhadores é,
na minha opinião, uma forma perversa de nanciar o sistema. Cobrar encargos
trabalhistas sobre a mão de obra, sobre a folha de pagamentos, é, do ponto de
vista social, uma condenação. O sistema é perverso, pois 40 milhões de brasilei-
ros estão excluídos do mercado formal de trabalho. Eles não conseguem ter ca-
pital, eles não conseguem ter tecnologia, eles não conseguem ter produtividade
mais alta, porque foram expulsos, excluídos do mercado formal de trabalho pela
forma perversa como o sistema é nanciado. Está-se botando um trabalhador
desempregado para nanciar a aposentadoria do outro. Isso é socialmente per-
verso. São bombas de destruição em massa de empregos. Milhões de brasilei-
ros estão desempregados por causa de um nanciamento perverso. Então, eu
não vejo com olhar tão doce e gentil o sistema previdenciário atual, porque ele é
perverso, 40 milhões de brasileiros são excluídos. E eles envelhecerão, e o sis-
tema está quebrado. Eles não conseguem contribuir para a Previdência porque
estão desempregados e, ao mesmo tempo, pesarão no futuro da Previdência.
Essa condenação é inequívoca. O sistema é ruim, o sistema é perverso (Em Au-
diência na comissão especial da reforma da previdência em 8 de maio de 2019).
Agente
social Discurso
Sobre a propagada disputa entre velhos e jovens, indicamos que
em nossos estudos anteriores sobre previdência, não havíamos encontra-
do essa construção discursiva por parte dos governantes brasileiros, de
uma guerra entre velhos e jovens. Por isso iremos nos dedicar a esse tema
no futuro, que já o mesmo já apareceu nos discursos de governantes ultra-
liberais ao redor do mundo (THÉRET, 1999; SAUVIAT, 2006).
Até o momento da análise, os dados tem apontado que todos os
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